FÓRUM:
“O que eles não deixavam escrito no corpo dessas pessoas foi, no entanto,
escrito a ferro e a fogo na carne da sociedade”. E cabem a cada um de nós,
historiadores ou não, preservar, refletir e criticar os mecanismos que
tornaram possível a ascensão e a queda de uma ordem Estatal que se sobrepôs a
democracia, a liberdade e a vida do povo brasileiro”. Em sua opinião quais
mecanismos estavam diretamente vinculados a ascensão da ditadura militar no
Brasil?
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Como é explícita, para todos os brasileiros a ditadura
militar foi instaurada no Brasil, não por meio de convocação de eleições diretas,
onde fosse dado aos eleitores o direito de escolher livremente o regime político,
mas, pelo contrário, o regime foi implantado através de um “golpe” derrubando o
então Presidente da República João Goulart, e a partir de então, os militares
assumiram o poder iniciando um novo ciclo político na nação em 31 de março de
1964, haja vista que o Brasil viveu uma crise política e administrativa desde a
renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, e com isso, o vice-presidente da
República João Goulart (Jango) assumiu oficialmente
o cargo enfrentando forte oposição dos militares e da elite
burguesa dominante, pois era um governante a favor do presidencialismo e contra
o parlamentarismo e pretendia-se realizar as reformas de bases (agrária,
urbana, tributária, eleitoral, bancária, do estatuto do capital estrangeiro,
universitária, etc.).
Pode-se dizer que o Brasil enfrentou um caos _
inúmeras greves, protestos e movimentos subversivos abalaram o país e os
militares com receio da situação fugir ao controle resolvem agir rapidamente
para controlar a baderna instaurada que tomou as ruas das grandes metrópoles e teve
o apoio da elite (dominante conservadora e tradicional) na Marcha da Família
com Deus pela Liberdade. É importante mencionar que, João Goulart não agüentou as
fortíssimas pressões políticas, pois não tinha nenhuma estratégia ou marketing
político que pudesse efetivamente reverter à situação naquele momento e com
isso, a única estratégia encontrada foi fugir para o Uruguai.
“(...)
centenas de líderes políticos, camponeses e sindicalistas foram presos e
tiveram seus direitos políticos cassados. A sede da UNE _ União Nacional dos
Estudantes foi incendiada no Rio de Janeiro, os partidos políticos foram
extintos e substituídos por apenas dois _ o partido do governo ARENA e outro da
oposição o MDB (...)”[1].
A partir de então, a atitude sem pensar e radical
realizada por João Goulart contribui para que os opositores ao seu governo
saíssem vitoriosos no término desse confronto e instaurasse no Brasil um novo
capítulo político, ou seja, um regime (totalitário, autoritário) conhecido por
todos nós como Ditadura Militar ou “Anos de Chumbo”. Acreditava-se que os
militares assumindo o poder de fato a situação política, administrativa e
econômica mudaria para melhor, mas pelo contrário, foi instaurado um “terrorismo”
sobre um sólido alicerce dos Atos Institucionais – AI nº 1, 2, 3, 4 e 5; e instauração
dos Inquéritos Policial-Militares (IPMs).
“(...)
A onda de repressão iniciou-se logo no primeiro dia de golpe. Ações foram
orquestradas contra os estudantes, sindicalistas, trabalhadores rurais e
industriais, políticos e militares (...) Centenas de sindicatos caíram sob
intervenção, as Ligas Camponesas foram dispersas (...) Cassações de direitos políticos (...) Torturas e assassinatos
deram início ao terrorismo de Estado (...)[2]”.
Infelizmente a ditadura militar para se perpetuar no
poder promove no Brasil um período histórico de censuras, cassações e prisões
onde vários intelectuais foram “mutilados” intelectualmente e os artistas
aderiram à resistência democrática através dos Festivais de Músicas contra o
regime.
Para driblar a democracia e a liberdade a ditadura
militar implantou diversos “instrumentos de guerra” para exterminar os inimigos
políticos baixando do AI – 5, considerado o mais cruel de todos os Atos
Institucionais _ “um golpe dentro do
golpe”, onde o Congresso Nacional foi fechado e os poderes foram
concentrados no executivo e a repressão (terrorismo) aumentou cada vez mais
dando início aos “Anos de Chumbo” e nessas cenas de filme de guerra e
terrorismo sobre todo esse aparato político, administrativo, econômico, social
e cultural a Ditadura Militar governou o Brasil e seus cidadãos por 21 anos.