04/01/2013

Perda da Aura na Obra de Arte por Walter Benjamin


AVALIAÇÃO DISSERTATIVA: Como Benjamin avalia a perda da aura na obra de arte no que diz respeito à realização das funções pedagógicas e expressivas da obra de arte.

 

Fazendo a análise crítica do artigo “O diálogo do olhar sobre a aura[1]” e dos textos disponibilizados no site da Universidade Gama Filho (UGF) pela professora Débora Maria M. Querido, foi possível entender que Walter Benjamin, filósofo judeu - alemão, foi o criador do conceito de aura em relação à obra de arte, pois para ele o universo encontra-se em constante transformação e inovação (imagética) e acabava intervindo na produção artística e com isso, o seu caráter sagrado, místico e autêntico se perdia causando um grande impacto negativo e radical em nosso tempo.

De acordo com as idéias defendidas por Walter Benjamin, a fotografia permite com que os indivíduos registrem e reproduzem-se cada vez mais, obras de arte, e valorizam a imagem captada pelo olhar do fotógrafo e não do pintor e a partir daí, a obra de arte perde a sua aura, sua autenticidade e sua função social e pedagógica e é descaracterizada e sendo utilizada por regimes totalitários (ditaduras) como estratégia política de alienação das massas populares e como recurso para promover e divulgar suas plataformas políticas (propagandas). Não podemos deixar de mencionar, que Walter Benjamin foi perseguido pelo regime nazista por ter sido contrário a esse procedimento de reprodução técnica que estava se impondo a arte naquele período e pelo fato de que a arte passou a ser encarada como um simples produto mercadológico, e que só pode ser exposta ou exibida ao público se rendia altos lucros aos seus financiadores; a autenticidade, a criatividade o teor pedagógico da obra de arte foi enclausurada nos calabouços do capitalismo e dos mecenas das artes.

Percebe-se que para Walter Benjamin esse progresso tecnológico, foi inserido no mundo artístico não com a intenção de melhorar, expandir ou desenvolver os trabalhos dos artistas, e fazer com que seus significados artísticos fossem captados pelas massas populares, mas, pelo contrário, a obra artística encontra-se alienada de si mesmo e do público, fruto da ação maliciosa de pequenos grupos que geram todo sistema artístico e de comunicação, de onde brotam interesses de ordem econômica em primeiro plano, antes mesmo de qualquer julgamento do objeto artístico.

Walter Benjamin alerta-nos que após a Revolução Industrial e pela facilidade de reproduzir integralmente obras de arte e essas está totalmente acessível e visível em qualquer lugar (museu, grandes galerias, “shopping centers”, etc;) a obra de arte vai perdendo seu valor pedagógico e expressivo _ a imagem artística deixa de ser cultuada e sua expressão banalizada, perdendo seu valor de exposição e tomando outros sentidos, haja vista que o valor de cada obra é ditado por especialistas do mercado, por pessoas que não pinta, desenha e nem cria e o valor estético é desidealizado e não tem como objetivo educar as pessoas socialmente, moralmente e culturalmente.

 

“(...) As obras de arte têm ficado cada vez mais parecida uma às outras, devido à banalização dos ideais (...) que leva à geração de elementos “aurais” (...)”[2].

 

A partir do que foi exposto até o momento, podemos pressupor que as massas populares não conseguem perceber a grandeza de uma obra de arte e que a mesma está perdendo seu significado pedagógico e expressivo e não está nem envolvida nem comprometida com a: política, evolução, libertação e conscientização dos indivíduos, pois infelizmente a arte para Walter Benjamin se tornou uma “arte industrial”, ou seja, mecânica. O público passou a ser atraído pelos “fetiches” criados no “seio do capital” e aderiu aos desejos das elites dominantes.

 

“(...) essa arte tem menos compromisso consigo mesmo, não estranha que se exclua do compromisso com a sociedade (...)”[3].

 

Vale lembrar que, o progresso tecnológico deveria ter favorecido com a função emancipatória, e tornado a arte democraticamente acessível ao ser humano e rompendo com as barreiras do monopólio cultural, pois ainda existe uma enorme diferença econômica e social entre os cidadãos do planeta Terra independente de suas nações, que os impede de ter contato com o “universo” das obras de artes e livre acesso a museu, galeria de arte, teatro, cinema, etc.

Para finalizar esta avaliação acreditamos ser pertinente, neste momento, evidenciar como é possível os grupos sociais menos favorecidos terem acesso aos meios de produção teatral e assistir uma peça de teatro se o valor do ingresso cobrado não é compatível com a renda familiar, haja vista que valor cobrado no ingresso para assistir “Priscila, Rainha do Deserto – o musical” no Teatro Bradesco do Bourbon Shopping São Paulo era:

Frisa 3º andar
R$ 40,00
Frisa 2º andar
R$ 80,00
Frisa 1º andar
R$ 120,00
Balcão Nobre
R$ 120,00
Camarote
R$ 180,00
Platéia Superior
R$ 200,00
Platéia Vip (Filas A a I e J a O central)
R$ 250,00

 

 

 

 



[1] Artigo escrito por Edvaldo Siqueira Albuquerque, mestrando em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará – UFC.
[2]  Ibidem, p. 9.
[3] Ibidem, p. 10.

Função Expressiva na Obra de Arte


FÓRUM: Considere uma das obras comentadas no texto e comente sobre a realização de uma função pedagógica e/ ou expressiva.

 

Em relação à função expressiva após a leitura do material, disponibilizado no site da Universidade Gama Filho – UGF pela professora Débora Maria M. Querido, podemos concluir que a função expressiva da obra de arte tem como objetivo “revelar” para a sociedade todos os tipos de manifestações artísticas e culturais (obras de artes) criada pelo homem ao longo do tempo, pois vivemos num mundo marcado por encontros culturais cada vez mais freqüentes calcado por um hibridismo cultural. É importante mencionar que as obras de arte não se podem reduzir apenas a uma (única) simples manifestação de sentimento, haja vista que as classes dominantes sempre tentaram impor paradigmas, estilos, conceitos, padrões, etc; no mundo das artes gerando uma visão excludente e preconceituosa em relação à arte popular oriunda das classes menos favorecida socialmente.

Se a arte expressiva tem como finalidade: mostrar. A partir daí, podemos dizer, que a arte na pré-história pretendia mostrar o mundo mágico-religioso daquele momento histórico e que a arte na Modernidade teve a pretensão de revelar a identidade individual e coletiva, marcada pelo estilismo.

Vale lembrar que a arte provoca nos indivíduos uma gama variada de sentimento e emoções e uma diversidade de reações humanas e sua função expressiva visa transformar num fim aquilo que para outras atividades humanas é um meio e com isso, transmuta instrumentos sensoriais e, quem sabe, consigamos alcançar nossos objetivos em um fim.

“(...) as artes transfiguram a realidade para que tenhamos acesso verdadeiro a ela. Desequilibra o instituído e os estabelecidos, descentra formas e palavras, retirando-as do contexto costumeiro para fazer-nos conhecê-las numa outra dimensão, instituinte ou criadora (...)”[1].

 

A função expressiva da obra de arte permite com que os indivíduos tenham oportunidade de conhecer o mundo, e enxergar como ele realmente é _ façanha realizada através de símbolos e alegorias em outras palavras: cores, texturas, formas, ritmos, gestos, expressões, etc.

 

“(...) Assim, a obra de arte nos traz uma última revelação: mostra que a história é o movimento incessante no qual o presente (o artista trabalhado) retoma o passado (o trabalho dos outros) e abre o futuro (a nova obra instituinte) (...)”[2].

 

Em nossa opinião expressar na obra de arte é “impactar” e “chocar” fazer com que o público perceba e entenda a real mensagem que o pintor, escultor, músico, ator, artista, etc; quer nos transmitir através de sua criação artística e não importa se tenhamos uma interpretação positiva, negativa, crítica de sua obra.

 



[1] Ideia de CHAUI, Marilena.
[2] CHAUI, Marilena.

Década de 1950 _ A função de Produtos de Massas às Produções Artísticas


FÓRUM: Como a década de 50 consolidou uma função de produto de massa às produções artísticas?

 

A partir dos nossos estudos sobre o Brasil na década de 1950, descobrimos que Getúlio Vargas foi reeleito presidente com a promessa política, administrativa e econômica de tornar o país desenvolvido, industrializado e moderno, pois ele rotulava como o “pai dos pobres” e a historiografia como “populista”. Percebe-se, que Getúlio Vargas se aproveitou dessa estratégia política para implantar no Brasil de maneira indireta, ou seja, oculta um governo autoritário onde os cidadãos brasileiros tinham que respeitar ele como pai e obedecer à sua autoridade, pois todos eram considerados como filhos e súditos.

E importante mencionar, no entanto, que a promessa de Getúlio Vargas foi cumprida em relação à industrialização e modernização do país, haja vista que as massas populares abandonaram suas regiões de origem em direção das grandes cidades e metrópoles, em busca de um novo emprego, melhores salários, estudos e qualidade de vida, e a partir daí, o modo de vida (consumo e comportamento) da população começou a mudar gradativamente.

Vale lembrar que, a industrialização e modernização promoveram o desenvolvimento e a expansão dos meios de comunicação de massas no Brasil permitindo o acesso a todos os cidadãos, tanto no que se refere à informação quanto ao lazer e o rádio passou a fazer parte do cotidiano das pessoas, tornando-se um companheiro de todas as horas e um importante meio de informação e entretenimento.

 

“(...) o rádio exerceu forte influência na vida das pessoas, sendo capaz de criar modas, inovar estilos e inventar práticas cotidianas. Os diversos programas, como as radionovelas, programas de auditório, humorísticos, de variedades, de calouros e outros, fizeram tanto sucesso que marcaram profundamente a vida das pessoas, transformando-se em parte integrante do cotidiano. Além da divulgação de manifestações artísticas, mantinha as pessoas informadas e integradas, superando os limites físicos. O rádio trazia o mundo para dentro de casa (...) E continua presente em todos os meios, nas mais diversas situações. É utilizado como veículo de informação, lazer, denúncias e difusão  de uma ideologia  formadora de opiniões (...)[1]” .

 

De acordo com Yvonete Pedra Meneguel e Oséias de Oliveira, Getúlio Vargas passou a fazer uso desse meio de comunicação para difundir o projeto político – pedagógico do Estado Novo, repassando a imagem de uma sociedade unida e harmônica, sem divisões e conflitos sociais. Por meio de um programa oficial, “A Hora do Brasil” que deveria ser retransmitida por todas as emissoras do país, buscava-se difundir a informação, a cultura e o civismo, criando uma unidade nacional.

Ao conhecer a história dos primeiros tempos do rádio no Brasil e sua importância para a divulgação de uma ideologia, torna-se possível entender por que o poder público procurou, desde o início, manter sob o controle os meios de comunicação.

Não podemos esquecer-nos de mencionar neste fórum, que o cinema e o teatro tiveram um papel importante no desenvolvimento da produção cultural no Brasil que acabou sofrendo uma forte influência dos Estados Unidos em relação aos produtos da indústria cultural (cinematográfica, teatral, fonográfica, publicitária, etc.;), haja vista que o Brasil saiu na frente em relação aos Estados Unidos, com os filmes denominados de Chanchadas[2] nas décadas de 1950 e 1960 e seus atores e atrizes (Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Mazzaropi, etc.) foram aplaudidos e consagrados pelo público e criticados pelos estudiosos do cinema brasileiro por considerar que esses filmes eram imorais, vulgares, totalmente desprovido de conteúdo e de inteligência e não seguia as tendências (supremacia / glamour) do cinema americano. O público sofisticado fazia pouco caso delas e a elite cultural às esconjurava.

Percebe-se que a elite burguesa dominante tinha uma forte resistência em relação às produções artísticas culturais oriundas das classes populares e com o objetivo de reverter este cenário, urge um esforço de elaborar um novo projeto de cultura que deve representar o lado mais polido, culto, educado e civilizado da sociedade brasileira e a partir daí, foi criado o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) _ companhia paulistana que importou diretores e técnicos da Itália para formar um grupo de alto nível e repertório sofisticado, solidificando a experiência moderna do teatro brasileiro.

Em 1950, foi fundado o Teatro Paulista de Estudantes (TPE) ligado a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP com a missão de romper barreiras e desafios políticos e extinguir os padrões convencionais da expressão teatral vigente à época e a partir daí, propõem encenação de peças teatrais que levasse o público a atentar para os problemas políticos, econômicos, sociais do país e os dramas humanos coletivos, ou seja, mostrar o Brasil como ele realmente é.

 

“(...) o espetáculo atraiu a atenção das pessoas para a encenação nacional, que expunha uma crítica a sua própria realidade social (...)”[3].

 

“(...) a vontade do novo trazia embutido, em várias áreas da cultura, o desejo de transformar a realidade de um país subdesenvolvido, de retirá-lo do atraso, de construir uma nação realmente independente (...)[4]”.

 

Antes de finalizar este fórum, é importante informar ao leitor que a década de 1950, ficou conhecida como “anos dourados”, pois foi nesse período em que se pensou em fazer um novo tipo: de programa de rádio, de cinema, de teatro, de música, de literatura, de arte _ completamente diferente feito, até então.

 

“(...) Por outro lado, o vigor do movimento cultural encontrava eco junto a setores das camadas médias urbanas em franca expansão, sobretudo universitárias, sintonizadas com o espírito nacionalista da época, e com a crença nas possibilidades de desenvolvimento do país (...)[5]”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Citação extraída do artigo “O rádio no Brasil: Do surgimento à década de 1940 a primeira emissora de rádio de Guarapuava” de Yvonete Pedra Meneguel, professora PDE, 1º edição, graduada em História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste _ UNICENTRO (1993). Pós-Graduação em Ensino, Teoria e Produção do Conhecimento Histórico pela Universidade Estadual Centro-Oeste _UNICENTRO (1998) e Professor Dr. Oséias de Oliveira, Docente do Curso de Graduação de História da Universidade Centro- Oeste _ UNICENTRO, orientador do Programa de Desenvolvimento Educacional, PDE, 1º edição.
[2] Produções cinematográfica de humor que lotavam as salas de cinemas que escrachava com o subdesenvolvimento do país, fazendo dele motivo de gargalhada. No riso havia a catarse que fazia superar a autocomiseração nacional. Mas, sem dúvida, com poucos recursos, muitas vezes feitos às pressas e de forma improvisada, os filmes eram o reflexo da pobreza tecnológica e atraso geral do Brasil. Aos olhos dos críticos, eram muito mais: mostravam explicitamente a falta de cultura e de inteligência do país. Não obstante, muitos desses filmes satirizavam os costumes e a situação sócio-econômica e política, não podendo ser classificados como alienados ou alienantes. Como em muitas chanchadas, a impotência do brasileiro diante do colonizador havia inspirado o roteiro. Mas as frustrações de colonizado e, em particular nesta produção, o caos do governo de Getúlio, estavam implícitos em metáforas. Havia no filme algo mais que a simples intenção de provocar o riso e lotar os cinemas como era de se esperar numa chanchada. Por isso esta comédia ganhou certo respeito de críticos e estudiosos.
[3] Citação extraída do material disponibilizado pela professora Débora Maria M. Querido, no site da Universidade Gama Filho – UGF.
[4] Citação extraída do site http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Sociedade/Anos1950.
[5] Citação extraída do site http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Sociedade/Anos1950.
 

As diferenças entre a arte da década de 60 e 70 - Brasil


Acadêmico: Fabrício Oliveira
R.A: 71362
Curso: História e Cultura no Brasil
Disciplina: de Arte e Política: Cinema, Teatro e Música No Brasil
Professora: Débora Maria M. Querido

 

AVALIAÇÃO DISSERTATIVA: No que diz respeito à arte pedagógica em relação ao contexto político, comente as diferenças entre a arte da década de 60 e 70.

 

Fazendo a leitura do artigo “A Tropicália: Cultura e Política nos Anos 60” de Cláudio N. P. Coelho[1], foi possível entender que a década de 1960, revolucionou a produção artística no Brasil e no mundo produzindo um novo tipo de arte como: a Tropicália (Movimento Tropicalista[2]), a Jovem Guarda, a Bossa Nova, etc; que conquistou espaço na imprensa, no rádio e principalmente, na televisão brasileira.

 

“(...) nos anos 60 o pensamento de esquerda exerceu um forte influência sobre a produção cultural (...)[3]”.

 

Não podemos esquecer-nos de mencionar que na década 60, o Brasil sofreu intervenção militar (Golpe Militar / 1964) e o endurecimento do regime em dezembro de 1968 que tinha a missão de aterrorizar a sociedade civil de modo geral e exterminar qualquer tipo de idéia que fosse contrária ao governo imposto no país e por isso foi criado o AI-5, mas mesmo assim, existiram brasileiros (parlamentares, ativistas, sindicalistas, intelectuais, professores, estudantes, religiosos, artistas, etc;) que conseguiram superar seus medos, traumas, angústias, traições e decepções e não abandonaram suas razões ideológicas (políticas, sociais, educacionais, culturais, etc.) em prol de um Brasil democrático e onde qualquer espécie de “ditadura”, “repressão” e “censura” fosse abolido, pois acreditava-se que causava um mal estar na sociedade brasileira. Vale lembrar que, o teatro, o cinema, a música não se intimidou com as atrocidades cometidas pela ditadura militar e continuo driblando a repressão e a censura imposta e realizando uma arte de esquerda, contrária e engajada[4] que conscientiza os cidadãos brasileiros da política que está sendo implantada de norte a sul do país, e denunciar a realidade autoritária e repressora.

De acordo com as idéias de Cláudio N. P. Coelho, o tropicalismo rompeu com os velhos paradigmas da esquerda é por essa razão, mostrou-se contrária à produção tropicalista.

 

“(...) Essas novas produções se diferenciavam das artes da esquerda, pois não expressavam uma superação histórica, nem exaltavam a luta como forma de redenção, mas apenas retratavam a realidade brasileira como um alegre absurdo, com sons e formas diferentes, priorizando o sentir (...)[5]”.

 

“(...) O mais famoso dos confrontos esquerda X tropicalistas deu-se em setembro de 1968 no auditório do TUCA em São Paulo, quando as eliminatórias do Festival Internacional da Canção (FIC) promovido pela TV Globo. Ali Caetano Veloso foi praticamente impedido de cantar “É Proibido Proibir”, devido às vaias e gritos de militantes de esquerda situados na platéia, e respondeu com um discurso onde comparou esses militantes com os fascistas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), que havia espancado os atores da peça “Roda Viva” de Chico Buarque de Hollanda, afirmando, também, que eles estavam ultrapassados, que iriam “sempre matar o amanhã o velhote inimigo que morreu ontem”, e que suas concepções artísticas prenunciavam posições políticas perigosas: “Se vocês em política forem como são em estética, estamos feitos! (...)[6]”.

 

Outro fator que chama nossa atenção em nossos estudos foi quando nós nos deparamos com o confronto entre a esquerda e com os músicos da Jovem Guarda (artistas alienados), pois para a esquerda Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa só cantam músicas de experiência alheias (ao universo da esquerda) _ conflitos sentimentais, passeios automobilísticos, etc; utilizando formas artísticas execradas por ela _ o rock _ inspirado no gênero americano. Na concepção da esquerda, os tropicalistas eram uma espécie de “agentes do inimigo” infiltrados para destruir por dentro, o “movimento revolucionário”.

Neste momento os estudantes e universitários entram em cena e eclode um grito no ar em prol da: democracia, liberdade (individual, coletiva e de expressão), justiça, da solidariedade, generosidade, dignidade, cidadania, igualdade de oportunidades, respeito às diferenças, etc; _ e em virtude disso, vários cidadãos brasileiros foram “convidados” a viver na ilegalidade e na clandestinagem, para salvar suas próprias vidas e não ser eliminados rapidamente pelo regime.

É importante esclarecer, portanto, que nem todos os indivíduos, pertencentes à esquerda política do Brasil viam os tropicalistas como “traidores” e “contrários” a revolução, haja vista que o tropicalismo denunciou através de sua arte uma nação confusa, injusta e engraçada que almejava por transformações urgentemente.

A década de 1960 foi marcada pelo movimento Hippie que defendia as idéias de liberdade sexual, do amor livre, da paz universal, de liberdade, da liberação do uso do álcool e de outras drogas, do rock e com o rompimento das tradições arcaicas e conservadoras que impregnavam na sociedade.

Assistindo o vídeo “Anos 70: Trajetórias _ Panorama Histórico Brasileiro” no You Tube, vimos que o Brasil viveu neste momento histórico o período mais sombrio da ditadura militar, marcado por presidentes militares e não civis onde os brasileiros foram caçados e torturados como animais, exilados de sua terra natal (Brasil), impedidos de exercerem suas profissões _ infelizmente, não temos números exatos e com precisão de quantas pessoas foram perseguidas pelo regime, haja vista que a censura se faz presente em todos os segmentos da sociedade “cenas de filmes, versos de músicas, notícias de jornais, peças de teatro e livros eram mutilados, cortados às vezes de forma incompreensível _ nos jornais muitas notícias eram censuradas como protesto o jornal Estado de São Paulo publicou versos dos Lusíadas para preencher os espaços vazios”.

Neste período vale elucidar que diversas produções artísticas e culturais foram censuradas como a peça de teatro “Rasga Coração” de Oduvaldo Vianna Filho, a primeira versão da novela “Roque Santeiro” de Dias Gomes. Segundo Celso Favaretto[7], vários artistas faziam versos, livros e cinema e eram “cortados” pela censura, mas através da linguagem figurada (metafórica / alusiva) driblavam a censura e transmitia e reproduzia suas ideologias políticas e culturais, pois todos encontravam na “corda bamba” com a ditadura militar.

Percebe-se que a televisão passou a ser o eletrodoméstico mais consumido entre os brasileiros. Incentivava os brasileiros a mudar os padrões de comportamento e suas próprias atitudes e a partir daí, a cultura começa a ser pensada como cultura de mercado que leva os indivíduos a ter a necessidade artificial de consumir cada vez mais.

Nesta época o rock ganha força embalado ao som de Raul Seixas, Novos Baianos, Secos e Molhados, Clube da Esquina e Rita Lee e o samba consegue novamente espaço entre outras esferas da nossa sociedade na voz de Cartola, Lupicínio Rodrigues, Adoniram Barbosa. Vários artistas que foram presos e depois exilados na década de 60 retornam ao Brasil e fazem grande sucesso entre o público e produzem novos discos.

Não podemos deixar de abordar que a ditadura militar criou diversas estratégias, para sabotar shows, espetáculos e as produções artísticas de modo geral. A Rede Globo passou a liderar o ranking das emissoras de televisão do país inovando sua grade de programação e na forma de informar e entreter o telespectador sem se opor a dinâmica do regime militar



[1] Doutorando do Programa de Pós _ Graduação do Departamento de Sociologia, FFLCH _ USP. Disponível em: www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/pdf/vol01n2a%tropicalia.pdf _ Tempo Social; Ver. Social. USP, S. Paulo, volume I.
[2] Denominação atribuída a manifestações artísticas espalhadas por diferentes ramos da produção cultural, como as artes plásticas _ com os trabalhos de Hélio Oiticica _, o cinema _ com as obras de Glauber Rocha _ ou o teatro _ com as peças dirigidas por José Celso Martinez. Música Popular Brasileira; onde se destacaram _ dentre outros _ os cantores e compositores como Caetano Veloso e Gilberto Gil.
[3] Citação extraída do artigo A Tropicália: Cultura e Política nos Anos 60”.
[4] Arte engajada: obra artística deve ter por referente à “realidade brasileira”, ser o reflexo da situação vivida pelo “povo brasileiro”; do contrário, se for à expressão da subjetividade do artista, por exemplo, será uma obra alienada, que “desvia” o povo da tomada de consciência dos seus interesses, dificultando sua participação na Revolução.
[5] Citação extraída do material disponibilizado para download pela professora Débora Maria M. Querido, no site da Universidade Gama Filho _ UGF.
[6] Citação extraída do artigo “A Tropicália: Cultura e Política nos Anos 60”.
 
[7] Professor do programa de Pós-Graduação em Filosofia da FFLCH-USP.