04/01/2013

As diferenças entre a arte da década de 60 e 70 - Brasil


Acadêmico: Fabrício Oliveira
R.A: 71362
Curso: História e Cultura no Brasil
Disciplina: de Arte e Política: Cinema, Teatro e Música No Brasil
Professora: Débora Maria M. Querido

 

AVALIAÇÃO DISSERTATIVA: No que diz respeito à arte pedagógica em relação ao contexto político, comente as diferenças entre a arte da década de 60 e 70.

 

Fazendo a leitura do artigo “A Tropicália: Cultura e Política nos Anos 60” de Cláudio N. P. Coelho[1], foi possível entender que a década de 1960, revolucionou a produção artística no Brasil e no mundo produzindo um novo tipo de arte como: a Tropicália (Movimento Tropicalista[2]), a Jovem Guarda, a Bossa Nova, etc; que conquistou espaço na imprensa, no rádio e principalmente, na televisão brasileira.

 

“(...) nos anos 60 o pensamento de esquerda exerceu um forte influência sobre a produção cultural (...)[3]”.

 

Não podemos esquecer-nos de mencionar que na década 60, o Brasil sofreu intervenção militar (Golpe Militar / 1964) e o endurecimento do regime em dezembro de 1968 que tinha a missão de aterrorizar a sociedade civil de modo geral e exterminar qualquer tipo de idéia que fosse contrária ao governo imposto no país e por isso foi criado o AI-5, mas mesmo assim, existiram brasileiros (parlamentares, ativistas, sindicalistas, intelectuais, professores, estudantes, religiosos, artistas, etc;) que conseguiram superar seus medos, traumas, angústias, traições e decepções e não abandonaram suas razões ideológicas (políticas, sociais, educacionais, culturais, etc.) em prol de um Brasil democrático e onde qualquer espécie de “ditadura”, “repressão” e “censura” fosse abolido, pois acreditava-se que causava um mal estar na sociedade brasileira. Vale lembrar que, o teatro, o cinema, a música não se intimidou com as atrocidades cometidas pela ditadura militar e continuo driblando a repressão e a censura imposta e realizando uma arte de esquerda, contrária e engajada[4] que conscientiza os cidadãos brasileiros da política que está sendo implantada de norte a sul do país, e denunciar a realidade autoritária e repressora.

De acordo com as idéias de Cláudio N. P. Coelho, o tropicalismo rompeu com os velhos paradigmas da esquerda é por essa razão, mostrou-se contrária à produção tropicalista.

 

“(...) Essas novas produções se diferenciavam das artes da esquerda, pois não expressavam uma superação histórica, nem exaltavam a luta como forma de redenção, mas apenas retratavam a realidade brasileira como um alegre absurdo, com sons e formas diferentes, priorizando o sentir (...)[5]”.

 

“(...) O mais famoso dos confrontos esquerda X tropicalistas deu-se em setembro de 1968 no auditório do TUCA em São Paulo, quando as eliminatórias do Festival Internacional da Canção (FIC) promovido pela TV Globo. Ali Caetano Veloso foi praticamente impedido de cantar “É Proibido Proibir”, devido às vaias e gritos de militantes de esquerda situados na platéia, e respondeu com um discurso onde comparou esses militantes com os fascistas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), que havia espancado os atores da peça “Roda Viva” de Chico Buarque de Hollanda, afirmando, também, que eles estavam ultrapassados, que iriam “sempre matar o amanhã o velhote inimigo que morreu ontem”, e que suas concepções artísticas prenunciavam posições políticas perigosas: “Se vocês em política forem como são em estética, estamos feitos! (...)[6]”.

 

Outro fator que chama nossa atenção em nossos estudos foi quando nós nos deparamos com o confronto entre a esquerda e com os músicos da Jovem Guarda (artistas alienados), pois para a esquerda Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa só cantam músicas de experiência alheias (ao universo da esquerda) _ conflitos sentimentais, passeios automobilísticos, etc; utilizando formas artísticas execradas por ela _ o rock _ inspirado no gênero americano. Na concepção da esquerda, os tropicalistas eram uma espécie de “agentes do inimigo” infiltrados para destruir por dentro, o “movimento revolucionário”.

Neste momento os estudantes e universitários entram em cena e eclode um grito no ar em prol da: democracia, liberdade (individual, coletiva e de expressão), justiça, da solidariedade, generosidade, dignidade, cidadania, igualdade de oportunidades, respeito às diferenças, etc; _ e em virtude disso, vários cidadãos brasileiros foram “convidados” a viver na ilegalidade e na clandestinagem, para salvar suas próprias vidas e não ser eliminados rapidamente pelo regime.

É importante esclarecer, portanto, que nem todos os indivíduos, pertencentes à esquerda política do Brasil viam os tropicalistas como “traidores” e “contrários” a revolução, haja vista que o tropicalismo denunciou através de sua arte uma nação confusa, injusta e engraçada que almejava por transformações urgentemente.

A década de 1960 foi marcada pelo movimento Hippie que defendia as idéias de liberdade sexual, do amor livre, da paz universal, de liberdade, da liberação do uso do álcool e de outras drogas, do rock e com o rompimento das tradições arcaicas e conservadoras que impregnavam na sociedade.

Assistindo o vídeo “Anos 70: Trajetórias _ Panorama Histórico Brasileiro” no You Tube, vimos que o Brasil viveu neste momento histórico o período mais sombrio da ditadura militar, marcado por presidentes militares e não civis onde os brasileiros foram caçados e torturados como animais, exilados de sua terra natal (Brasil), impedidos de exercerem suas profissões _ infelizmente, não temos números exatos e com precisão de quantas pessoas foram perseguidas pelo regime, haja vista que a censura se faz presente em todos os segmentos da sociedade “cenas de filmes, versos de músicas, notícias de jornais, peças de teatro e livros eram mutilados, cortados às vezes de forma incompreensível _ nos jornais muitas notícias eram censuradas como protesto o jornal Estado de São Paulo publicou versos dos Lusíadas para preencher os espaços vazios”.

Neste período vale elucidar que diversas produções artísticas e culturais foram censuradas como a peça de teatro “Rasga Coração” de Oduvaldo Vianna Filho, a primeira versão da novela “Roque Santeiro” de Dias Gomes. Segundo Celso Favaretto[7], vários artistas faziam versos, livros e cinema e eram “cortados” pela censura, mas através da linguagem figurada (metafórica / alusiva) driblavam a censura e transmitia e reproduzia suas ideologias políticas e culturais, pois todos encontravam na “corda bamba” com a ditadura militar.

Percebe-se que a televisão passou a ser o eletrodoméstico mais consumido entre os brasileiros. Incentivava os brasileiros a mudar os padrões de comportamento e suas próprias atitudes e a partir daí, a cultura começa a ser pensada como cultura de mercado que leva os indivíduos a ter a necessidade artificial de consumir cada vez mais.

Nesta época o rock ganha força embalado ao som de Raul Seixas, Novos Baianos, Secos e Molhados, Clube da Esquina e Rita Lee e o samba consegue novamente espaço entre outras esferas da nossa sociedade na voz de Cartola, Lupicínio Rodrigues, Adoniram Barbosa. Vários artistas que foram presos e depois exilados na década de 60 retornam ao Brasil e fazem grande sucesso entre o público e produzem novos discos.

Não podemos deixar de abordar que a ditadura militar criou diversas estratégias, para sabotar shows, espetáculos e as produções artísticas de modo geral. A Rede Globo passou a liderar o ranking das emissoras de televisão do país inovando sua grade de programação e na forma de informar e entreter o telespectador sem se opor a dinâmica do regime militar



[1] Doutorando do Programa de Pós _ Graduação do Departamento de Sociologia, FFLCH _ USP. Disponível em: www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/pdf/vol01n2a%tropicalia.pdf _ Tempo Social; Ver. Social. USP, S. Paulo, volume I.
[2] Denominação atribuída a manifestações artísticas espalhadas por diferentes ramos da produção cultural, como as artes plásticas _ com os trabalhos de Hélio Oiticica _, o cinema _ com as obras de Glauber Rocha _ ou o teatro _ com as peças dirigidas por José Celso Martinez. Música Popular Brasileira; onde se destacaram _ dentre outros _ os cantores e compositores como Caetano Veloso e Gilberto Gil.
[3] Citação extraída do artigo A Tropicália: Cultura e Política nos Anos 60”.
[4] Arte engajada: obra artística deve ter por referente à “realidade brasileira”, ser o reflexo da situação vivida pelo “povo brasileiro”; do contrário, se for à expressão da subjetividade do artista, por exemplo, será uma obra alienada, que “desvia” o povo da tomada de consciência dos seus interesses, dificultando sua participação na Revolução.
[5] Citação extraída do material disponibilizado para download pela professora Débora Maria M. Querido, no site da Universidade Gama Filho _ UGF.
[6] Citação extraída do artigo “A Tropicália: Cultura e Política nos Anos 60”.
 
[7] Professor do programa de Pós-Graduação em Filosofia da FFLCH-USP.

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