15/11/2012

Neutralidade do Historiador

AVALIAÇÃO DISSERTATIVA: Discuta a questão da neutralidade do historiador.


A historiadora Joelza Ester Domingues[1] (2009) defende a ideia que o historiador busca conhecer e explicar o passado para compreender o presente e transformar o futuro. E em hipótese alguma, pode considerar o “dono da verdade”, pois está comprovado cientificamente que os fatos podem ser explicados de diferentes maneiras e que o historiador é, portanto um investigador (detetive) e qualquer assunto do domínio humano podem servir de tema para sua pesquisa este deve ser um trabalho interdisciplinar, haja vista que não há uma verdade única dos fatos e também não existe uma História única. Existem Histórias, no plural.
E importante mencionar, no entanto, que devido ao fato de não termos uma explicação única, para o mesmo tema / assunto _ o mesmo poderá ser explicado por múltiplo viés, podendo ser utilizados outros documentos e outras abordagens que não foram aplicados nos estudos anteriores, e a partir daí, chega-se a outra versão ou interpretação. Mas no século XVIII, não se pensava dessa forma, pois o Positivismo elaborado por Auguste Comte defendia a idéia que os métodos (sintéticos) adotados nas ciências naturais (Biologia) que analisava a sociedade como um todo também deve ser aplicados nas ciências humanas, que deveria abarcar a totalidade da história humana visando desta forma, a obtenção de resultados claros, objetivos, e completamente corretos _ “a sociedade teria que sair do seu ponto menor de desenvolvimento e todas elas, sem exceção, deveriam caminhar para o maior ponto de desenvolvimento, ou seja, a sociedade européia industrial”.
Vale ressaltar que, os pensadores positivistas acreditavam no argumento da neutralidade, ou seja, na separação entre o sujeito e o objeto, entre o autor e sua obra e com isso, o homem (historiador, sociólogo, filósofo, pesquisador, cientista, etc;) não teria a capacidade suficiente e nem o poder para alterar os resultados do processo social o máximo que ele poderia fazer era acelerar (catalisar) esse processo (acelerar a fatalidade) não podendo em hipótese alguma, alterar o resultado. Como por exemplo, podemos citar o aceleramento rumo a um modelo de uma sociedade industrial nos moldes da Europa onde a “ordem” natural da evolução deve ser aceita e respeitada pelos indivíduos.
Nessa proposta, o historiador deve ser um “agente passivo”, ou seja, neutro e não deve aceitar a idéia e nem propor uma “revolução” na História e na sociedade e não pode concordar com supostas mudanças drástica no estudo de História e nem com a participação das massas populares na construção da História. O historiador deve defender a plataforma política da “Ordem e do Progresso” _ partir de um ponto negativo para um ponto positivo e contribuir para o desenvolvimento de uma ciência social.

“(...) A obra em vez de mostrar as opiniões e julgamentos de seu autor, retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus fatos, mas sem analisar (...)[2]”.

Percebe-se que foi imposto uma “ditadura” e uma “censura” em relação ao trabalho do historiador que ficou à mercê do discurso político e educacional do período vigente e impossibilitado de emitir qualquer opinião, pois acreditava-se que suposta prática pode alterar o sentido e a verdade própria dos fatos e modificar  a História colocando os “heróis”, criados pela historiografia tradicional, conservadora, ultrapassada, positivista, etc; no calabouço do esquecimento e dando a possibilidade dos grupos sociais  menos favorecidos de deixarem de ser “figurantes” se tornar “atores principais” da História.

“(...) era preciso acertar os fatos para somente depois correr o risco de “mergulhar nas areias movediças da interpretação (...)[3]”.

Fica explícito que a neutralidade não permite com que o historiador intervenha no processo e na análise e de sua pesquisa científica e que deve apenas dar ênfase no estudo dos documentos que narravam os grandes acontecimentos, à história política e institucional, a vida e os efeitos dos grandes homens, das grandes batalhas, etc.

“(...) A principal habilidade do historiador era tirar tudo do documento, sem acrescentar nada nele. O melhor historiador era o que se mantinha mais perto que se mantinha mais perto do texto que escrevia e pensava segundo os documentos (...)[4]”.


[1] Mestre em História Social pela PUC _ SP, Bacharel em História pela FFLCH _ USP e Licenciada em História pela Faculdade de Educação _ USP e autora do livro didático do Ensino Fundamental II “História em Documento _Imagem e Texto”, adotado pelos professores de História da Escola Estadual João Baptista de Oliveira, Itapecerica da Serra – SP.

[2] Citação retirada do artigo de Paulo César Tomaz, graduado em História pela Universidade Estadual de Maringá e mestrando do PPH _ UEM, orientado pela professora Sandra C. A. Pelegrini (pós – doutoranda pelo NEE / Unicamp. Docente do DHI _ UEM/PR).
[3] Ibidem, p. 2.
[4] Ibidem, p. 2.

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