04/01/2013

Década de 1950 _ A função de Produtos de Massas às Produções Artísticas


FÓRUM: Como a década de 50 consolidou uma função de produto de massa às produções artísticas?

 

A partir dos nossos estudos sobre o Brasil na década de 1950, descobrimos que Getúlio Vargas foi reeleito presidente com a promessa política, administrativa e econômica de tornar o país desenvolvido, industrializado e moderno, pois ele rotulava como o “pai dos pobres” e a historiografia como “populista”. Percebe-se, que Getúlio Vargas se aproveitou dessa estratégia política para implantar no Brasil de maneira indireta, ou seja, oculta um governo autoritário onde os cidadãos brasileiros tinham que respeitar ele como pai e obedecer à sua autoridade, pois todos eram considerados como filhos e súditos.

E importante mencionar, no entanto, que a promessa de Getúlio Vargas foi cumprida em relação à industrialização e modernização do país, haja vista que as massas populares abandonaram suas regiões de origem em direção das grandes cidades e metrópoles, em busca de um novo emprego, melhores salários, estudos e qualidade de vida, e a partir daí, o modo de vida (consumo e comportamento) da população começou a mudar gradativamente.

Vale lembrar que, a industrialização e modernização promoveram o desenvolvimento e a expansão dos meios de comunicação de massas no Brasil permitindo o acesso a todos os cidadãos, tanto no que se refere à informação quanto ao lazer e o rádio passou a fazer parte do cotidiano das pessoas, tornando-se um companheiro de todas as horas e um importante meio de informação e entretenimento.

 

“(...) o rádio exerceu forte influência na vida das pessoas, sendo capaz de criar modas, inovar estilos e inventar práticas cotidianas. Os diversos programas, como as radionovelas, programas de auditório, humorísticos, de variedades, de calouros e outros, fizeram tanto sucesso que marcaram profundamente a vida das pessoas, transformando-se em parte integrante do cotidiano. Além da divulgação de manifestações artísticas, mantinha as pessoas informadas e integradas, superando os limites físicos. O rádio trazia o mundo para dentro de casa (...) E continua presente em todos os meios, nas mais diversas situações. É utilizado como veículo de informação, lazer, denúncias e difusão  de uma ideologia  formadora de opiniões (...)[1]” .

 

De acordo com Yvonete Pedra Meneguel e Oséias de Oliveira, Getúlio Vargas passou a fazer uso desse meio de comunicação para difundir o projeto político – pedagógico do Estado Novo, repassando a imagem de uma sociedade unida e harmônica, sem divisões e conflitos sociais. Por meio de um programa oficial, “A Hora do Brasil” que deveria ser retransmitida por todas as emissoras do país, buscava-se difundir a informação, a cultura e o civismo, criando uma unidade nacional.

Ao conhecer a história dos primeiros tempos do rádio no Brasil e sua importância para a divulgação de uma ideologia, torna-se possível entender por que o poder público procurou, desde o início, manter sob o controle os meios de comunicação.

Não podemos esquecer-nos de mencionar neste fórum, que o cinema e o teatro tiveram um papel importante no desenvolvimento da produção cultural no Brasil que acabou sofrendo uma forte influência dos Estados Unidos em relação aos produtos da indústria cultural (cinematográfica, teatral, fonográfica, publicitária, etc.;), haja vista que o Brasil saiu na frente em relação aos Estados Unidos, com os filmes denominados de Chanchadas[2] nas décadas de 1950 e 1960 e seus atores e atrizes (Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Mazzaropi, etc.) foram aplaudidos e consagrados pelo público e criticados pelos estudiosos do cinema brasileiro por considerar que esses filmes eram imorais, vulgares, totalmente desprovido de conteúdo e de inteligência e não seguia as tendências (supremacia / glamour) do cinema americano. O público sofisticado fazia pouco caso delas e a elite cultural às esconjurava.

Percebe-se que a elite burguesa dominante tinha uma forte resistência em relação às produções artísticas culturais oriundas das classes populares e com o objetivo de reverter este cenário, urge um esforço de elaborar um novo projeto de cultura que deve representar o lado mais polido, culto, educado e civilizado da sociedade brasileira e a partir daí, foi criado o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) _ companhia paulistana que importou diretores e técnicos da Itália para formar um grupo de alto nível e repertório sofisticado, solidificando a experiência moderna do teatro brasileiro.

Em 1950, foi fundado o Teatro Paulista de Estudantes (TPE) ligado a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP com a missão de romper barreiras e desafios políticos e extinguir os padrões convencionais da expressão teatral vigente à época e a partir daí, propõem encenação de peças teatrais que levasse o público a atentar para os problemas políticos, econômicos, sociais do país e os dramas humanos coletivos, ou seja, mostrar o Brasil como ele realmente é.

 

“(...) o espetáculo atraiu a atenção das pessoas para a encenação nacional, que expunha uma crítica a sua própria realidade social (...)”[3].

 

“(...) a vontade do novo trazia embutido, em várias áreas da cultura, o desejo de transformar a realidade de um país subdesenvolvido, de retirá-lo do atraso, de construir uma nação realmente independente (...)[4]”.

 

Antes de finalizar este fórum, é importante informar ao leitor que a década de 1950, ficou conhecida como “anos dourados”, pois foi nesse período em que se pensou em fazer um novo tipo: de programa de rádio, de cinema, de teatro, de música, de literatura, de arte _ completamente diferente feito, até então.

 

“(...) Por outro lado, o vigor do movimento cultural encontrava eco junto a setores das camadas médias urbanas em franca expansão, sobretudo universitárias, sintonizadas com o espírito nacionalista da época, e com a crença nas possibilidades de desenvolvimento do país (...)[5]”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Citação extraída do artigo “O rádio no Brasil: Do surgimento à década de 1940 a primeira emissora de rádio de Guarapuava” de Yvonete Pedra Meneguel, professora PDE, 1º edição, graduada em História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste _ UNICENTRO (1993). Pós-Graduação em Ensino, Teoria e Produção do Conhecimento Histórico pela Universidade Estadual Centro-Oeste _UNICENTRO (1998) e Professor Dr. Oséias de Oliveira, Docente do Curso de Graduação de História da Universidade Centro- Oeste _ UNICENTRO, orientador do Programa de Desenvolvimento Educacional, PDE, 1º edição.
[2] Produções cinematográfica de humor que lotavam as salas de cinemas que escrachava com o subdesenvolvimento do país, fazendo dele motivo de gargalhada. No riso havia a catarse que fazia superar a autocomiseração nacional. Mas, sem dúvida, com poucos recursos, muitas vezes feitos às pressas e de forma improvisada, os filmes eram o reflexo da pobreza tecnológica e atraso geral do Brasil. Aos olhos dos críticos, eram muito mais: mostravam explicitamente a falta de cultura e de inteligência do país. Não obstante, muitos desses filmes satirizavam os costumes e a situação sócio-econômica e política, não podendo ser classificados como alienados ou alienantes. Como em muitas chanchadas, a impotência do brasileiro diante do colonizador havia inspirado o roteiro. Mas as frustrações de colonizado e, em particular nesta produção, o caos do governo de Getúlio, estavam implícitos em metáforas. Havia no filme algo mais que a simples intenção de provocar o riso e lotar os cinemas como era de se esperar numa chanchada. Por isso esta comédia ganhou certo respeito de críticos e estudiosos.
[3] Citação extraída do material disponibilizado pela professora Débora Maria M. Querido, no site da Universidade Gama Filho – UGF.
[4] Citação extraída do site http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Sociedade/Anos1950.
[5] Citação extraída do site http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Sociedade/Anos1950.
 

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